sexta-feira, 18 de setembro de 2015

O PAPEL DAS MULHERES NO EVANGELHO

O PAPEL DAS MULHERES NO EVANGELHO


I. E ACONTECEU DEPOIS – narra São Lucas no Evangelho da Missa1 – que Jesus caminhava pelas cidades e aldeias pregando e anunciando o reino de Deus. Acompanhavam‑no os doze e algumas mulheres que tinham sido livradas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios, e Joana, mulher de Cusa, procurador de Herodes; e Susana, e outras muitas que o assistiam com as suas posses.

Na vida pública de Jesus, vemos este grupo de mulheres desempenhar um papel comovedor pela sua ternura e adesão ao Mestre. É bonito considerar como o Senhor quis apoiar‑se na generosidade e no desprendimento dessas mulheres. Ele, que nunca deixou de agradecer qualquer favor, como não lhes retribuiria tanto desvelo e delicadeza em atender às suas necessidades domésticas e às dos seus discípulos! E nas horas da Paixão, essas mulheres parecem exceder‑se e superam os discípulos em constância e valor; à exceção de João, foram as únicas que tiveram a coragem de permanecer ao pé da cruz, de contemplar de perto os derradeiros instantes de Jesus e de ouvir as suas últimas palavras. E quando, já morto, o Senhor é retirado do patíbulo, estão presentes no embalsamamento e dispõem‑se a completá‑lo no primeiro dia da semana, depois do repouso obrigatório do sábado.

O Senhor quis apressar‑se a recompensar essa decidida fidelidade, e, na aurora da Ressurreição, não foi aos discípulos, mas às mulheres, que apareceu em primeiro lugar. Os anjos também foram vistos unicamente por elas; João e Pedro verificaram que o sepulcro estava vazio, mas não viram os anjos. As mulheres foram favorecidas com essa visão talvez por estarem mais bem preparadas que os homens e, sobretudo, porque lhes coube a missão de continuar o papel dos anjos e de preparar a fé nascente da Igreja. Têm um espírito aberto e um zelo inteligente. “Desde o início da missão de Cristo, a mulher demonstra para com Ele e para com o seu mistério uma sensibilidade especial, que corresponde a uma característica da sua feminilidade. É preciso dizer também que uma confirmação particular disso se verifica em relação ao mistério pascal, não só no momento da Cruz, mas também na manhã da Ressurreição”2. Elas apressam‑se a cumprir a indicação de avisar os discípulos e de lhes recordar o que Jesus tinha anunciado antes da Paixão. Também estão presentes nas últimas manifestações de Jesus ressuscitado. E são, sem dúvida, as mesmas que voltaram da Galiléia após a Ascensão, com os discípulos e com as outras mulheres de Jerusalém e arredores, como as irmãs de Lázaro de Betânia. Com elas estava Maria, a Mãe de Jesus3.

O exemplo destas mulheres fiéis, que servem o Senhor com os seus bens e não o desamparam nos piores momentos, é um apelo à nossa fidelidade e a um serviço incondicional a Deus. Deve ser um serviço feito exclusivamente por amor, sem esperar retribuição alguma, como não a esperavam as santas mulheres de Cristo morto e sepultado. Serviam! Eu te servirei, Senhor, todos os dias da minha vida.

II. SE ALGUÉM ME SERVE, siga‑me; e onde eu estou, estará também ali o que me serve. Se alguém me serve, meu Pai o honrará4.

Desde os primeiros momentos da Igreja, a mulher prestou uma colaboração de valor inestimável na tarefa de expandir o Reino de Deus. “Vemos em lugar de destaque aquelas mulheres que se tinham encontrado pessoalmente com Cristo, que o tinham seguido e, depois da sua partida, eram assíduas na oração no Cenáculo de Jerusalém, até o dia de Pentecostes, juntamente com os Apóstolos. Naquele dia, o Espírito Santo falou por meio de filhos e filhas do Povo de Deus, cumprindo o anúncio do profeta Joel (cfr. At 2, 17). Aquelas mulheres, e depois outras mais, tiveram parte ativa e importante na vida da Igreja primitiva, na edificação da primeira comunidade cristã desde os começos – e das comunidades que se seguiram – mediante os seus carismas e com o seu serviço multiforme”5.

Pode‑se afirmar que o cristianismo começou na Europa com uma mulher, Lídia, que empreendeu imediatamente a sua missão de converter o novo continente começando pelo seu lar6. Algo de semelhante aconteceu entre os samaritanos, que ouviram falar pela primeira vez do Redentor por intermédio de uma mulher7; os Apóstolos, que tinham ido à aldeia em busca de alimento, possivelmente não se atreveram a anunciar aos habitantes do lugar – como o faria mais tarde a mulher – que o Messias estava ali mesmo, nos arredores da cidade. A Igreja sempre teve uma profunda compreensão do papel que a mulher cristã, como mãe, esposa e irmã, devia desempenhar na propagação do cristianismo. Os escritos apostólicos mencionam muitas dessas mulheres: Lídia em Filipos, Priscila e Cloé em Corinto, Febe em Cêncris, a mãe de Rufo – que também foi como uma mãe para Paulo –, as filhas de Filipe de Cesaréia, etc.

Todos temos de pôr ao serviço do Senhor e dos outros aquilo que recebemos. “A mulher está destinada a levar à família, à sociedade civil, à Igreja, algo de característico, que lhe é próprio e que só ela pode dar: a sua delicada ternura, a sua generosidade incansável, o seu amor pelo concreto, a sua agudeza de engenho, a sua capacidade de intuição, a sua piedade profunda e simples, a sua tenacidade...”8 A Igreja espera da mulher um compromisso em favor do que constitui a verdadeira dignidade da pessoa humana. O Corpo Místico de Cristo “não cessa de enriquecer‑se com o testemunho das numerosas mulheres que realizam a sua vocação para a santidade. As mulheres santas são uma personificação do ideal feminino, mas são também um modelo para todos os cristãos, um modelo de seqüela Christi – de seguimento de Cristo –, um exemplo de como a Esposa deve corresponder com amor ao amor do Esposo”9.

O Senhor pede a todos que o sirvamos a Ele, à Igreja santa, à sociedade e aos nossos irmãos os homens, com os nossos bens, com a nossa inteligência, com todos os talentos que nos deu. Então entenderemos a profundidade desta verdade: Servir é reinar10.

III. “O HOMEM, a única criatura na terra que Deus quis por si mesma, não pode encontrar‑se plenamente senão por um dom sincero de si mesmo”11. O Papa João Paulo II aplica estas palavras do Concílio Vaticano II especialmente à mulher, que “não pode encontrar‑se a si mesma senão dando amor aos outros”12.

É no amor, na entrega, no serviço aos outros que a pessoa humana, e talvez de um modo especial a mulher, realiza a vocação recebida de Deus. Quando a mulher coloca ao serviço dos outros as qualidades recebidas do Senhor, então “a sua vida e trabalho serão realmente construtivos e fecundos, cheios de sentido, quer passe o dia dedicada ao marido e aos filhos, quer se entregue plenamente a outras tarefas, se renunciou ao casamento por alguma razão nobre. Cada uma no seu próprio caminho, sendo fiel à vocação humana e divina, pode realizar e realiza efetivamente a plenitude da personalidade feminina. Não esqueçamos que Santa Maria, Mãe de Deus e Mãe dos homens, é não apenas modelo, mas também prova do valor transcendente que pode alcançar uma vida aparentemente sem relevo”13.

Hoje, ao considerarmos a generosidade dessas mulheres que seguiram o Senhor, pensemos como é a nossa. Vejamos se contribuímos, também materialmente – com meios econômicos – para a expansão do Reino de Cristo, se somos magnânimos com o nosso tempo no serviço aos outros... E se, ao levarmos a cabo todas as nossas tarefas, as impregnamos de uma profunda alegria, da particular felicidade que essa generosidade produz.

Não esqueçamos, ao terminarmos a nossa oração, que, tanto na vida pública como nas horas da Paixão, e muito provavelmente nos dias que se seguiram à Ressurreição, essas mulheres mencionadas por São Lucas gozaram de um especial privilégio: permaneceram num trato com Maria mais assíduo e mais íntimo do que os próprios discípulos. Aqui encontraram o segredo da generosidade e da constância com que seguiram o Mestre. Recorremos à Virgem para que nos ajude a ser fiéis e desprendidos. Junto dEla, só encontraremos ocasiões de servir, e assim conseguiremos esquecer‑nos de nós mesmos.

(1) Lc 8, 1‑3; (2) João Paulo II, Carta Apostólica Mulieris dignitatem, 15.08.88, 16; (3) cfr. P. Indart, Jesús en su mundo, Herder, Barcelona, 1963, pág. 81 e segs.; (4) Jo 12, 26; (5) João Paulo II, Carta Apostólica Mulieris dignitatem, 27; (6) cfr. At 16, 14‑15; (7) cfr. Jo 4, 39; (8) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Questões atuais do cristianismo, 3ª ed., Quadrante, São Paulo, 1986, n. 87; (9) João Paulo II, Carta Apostólica Mulieris dignitatem, 27; (10) cfr. Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 36; (11) Concílio Vaticano II, Constituição Gaudium et spes, 24; (12) João Paulo II, Carta Apostólica Mulieris dignitatem, 30; (13) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Questões atuais do cristianismo, n. 87.

fonte: http://www.hablarcondios.org/
FRANCISCO FERNÁNDEZ-CARVAJAL

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